Os analistas de mercado que acompanharam Investor Tour 2025 da Vale (VALE3) nesta semana, em Minas Gerais (MG), saíram com uma boa impressão sobre as estratégias da empresa para otimizar o portfólio. Por causa do otimismo, representantes do JPMorgan, Bradesco BBI e Itaú BBA reiteraram nesta quarta-feira (10) recomendação da compra na companhia – com alguns sinalizando inclusive a possibilidade de pagamento de dividendos extraordinários.
Um dos avanços da companhia apontados por eles foi a redução do teor de sílica – um composto químico naturalmente presente em muitas jazidas de ferro – do minério. Quando o minério é levado ao alto-forno para virar aço, o excesso de sílica precisa ser neutralizado, o que aumenta o gasto de energia e gera mais resíduos, elevando os custos. Por isso, minérios com muito teor de sílica valem menos. Outra impureza é a alumina, também um óxido presente no minério de ferro, mais comum em jazidas australianas.
Por causa do desastre de Brumadinho, que deixou um rastro de mortes e problemas ambientais, a Vale havia perdido parte sua capacidade de beneficiamento do minério porque as minas afetadas pela tragédia tinham minério de qualidade. A companhia passou a depender mais de outras jazidas, com minério de menor pureza.

A estratégia da Vale, segundo o JPMorgan, foi misturar o minério de ferro de alta qualidade extraído nas minas de Carajás (Pará), que tem baixo teor de impurezas, com minérios do Sul, que possuem mais sílica. Dessa combinação nasceu o BRBF (Brazilian Blend), uma mistura que equilibra custo e qualidade e que agora se encaixa exatamente no ponto ideal da relação alumina-sílica.
“As penalidades por sílica diminuíram, permitindo que a Vale atinja um preço/tonelada (t) mais alto em seu portfólio. A correção da penalidade por sílica caiu de cerca de US$ 2,5/t para perto de US$ 1,0/t”, disse o JP Morgam, citando enquanto o oposto foi observado nos descontos por alumina. “O prêmio para minérios com baixo teor de alumina (como o da Vale) também subiu cerca de US$ 3/t. Portanto, estamos falando em US$ 4-4,5/t em um portfólio de perto de 150Mt, o que é muito significativo para a empresa”.
A Vale, segundo o Itaú BBA, também introduziu com sucesso um novo produto em Carajás com cerca de 63% de Ferro, que foi bem recebido pelos clientes. “Com um pequeno prêmio em relação ao BRBF e sem a necessidade de mistura, este produto tem custos competitivos e maximiza o valor das reservas de Carajás. Espera-se que o produto atinja cerca de 25 milhões de toneladas em embarques até 2025, com forte adesão na Índia – um mercado que a gestão identificou como um foco crescente, com potencial para triplicar a demanda até 2027”, disse a casa.
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O pessoal do Bradesco BBI falou em relatório também que penalidades por sílica diminuíram significativamente nos últimos meses, enquanto os prêmios para produtos com baixo teor de alumina (por exemplo, BRBF e Carajás de teor médio) aumentaram. “Além disso, a produtividade de Carajás aumentou, melhorando as taxas de estéril e reduzindo os requisitos de licenciamento”.
Oportunidade de compra e dividendos
JPMorgan reiterou a recomendação de compra para a mineradora. Segundo a instituição financeira, apesar das melhorias vistas na companhia, as ações perderam valor e tiveram desempenho inferior a seus pares, especialmente nos últimos três meses, o que se mostra como uma oportunidade.
“Acreditamos que essa grande desconexão representa uma oportunidade para investidores, e reiteramos nossa visão positiva e a recomendação overweight (acima do peso) para Vale. A companhia está sendo negociada a 3,7x o EV/EBITDA (valor da empresa/lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) estimado para 2026, em comparação a uma média de 5,2x de seus pares”, disseram os analistas do banco.
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O BBI também reiterou classificação de desempenho superior para a Vale e disse que vê um potencial crescente para novos dividendos extraordinários e recompras no 2S25 (segundo semestre de 2025). “A Vale é nossa principal escolha em nossa cobertura de Metais e Mineração na América Latina”.
O Itaú BBA foi na mesma linha, reiterou a recomendação outperform para a Vale e manteve o nosso preço-alvo de US$ 13 por ADR para o final de 2026. “Vemos um potencial de valorização de 24%”, disse a casa, citando ainda um rendimento médio de fluxo de caixa livre de 10% para o período de 2026 a 2028 (excluindo os desembolsos para Mariana e Brumadinho), o que poderia se traduzir em um rendimento de dividendo médio de 9%. A instituição disse que vê a ação sendo negociada a 3,8x o EV/EBITDA no próximo ano.
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Capex reduzido
Nesta quarta, a Vale também divulgou em comunicado um investimento (capex) total para crescimento e manutenção entre US$ 5,4 bilhões e US$ 5,7 bilhões em 2025, ante US$ 5,9 bilhões estimados anteriormente.
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A companhia estimou em torno de US$ 1,7 bilhão para o segmento de metais para transição energética em 2025, ante US$ 2 bilhões projetados anteriormente, enquanto manteve a previsão de cerca de US$3,9 bilhões para soluções de minério de ferro.
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