Quando Howard Marks fala – ou melhor, quando escreve – o mercado para e presta atenção. Um dos mais aclamados gestores da atualidade, Marks é conhecido ao redor do mundo pelos memorandos que publica quase todos os meses. Neles, reflete sobre economia, preços de ativos – e, cada vez mais, sobre o comportamento dos investidores.
Essa foi a tônica da mais recente conversa de Howard Marks – sócio-fundador da gestora de fundos americana Oaktree – com o InfoMoney. Ao programa InfoMoney Entrevista dessa semana, ele explorou aspectos emocionais envolvidos no ato de comprar ou vender um ativo no mercado – especialmente importantes em tempos de incerteza e volatilidade, como os atuais.
“Você deveria comprar um ativo porque é uma empresa da qual quer fazer parte e acha que o valor — o valor real, não o preço — continuará subindo. Não porque subiu, então talvez suba mais. Ou porque subiu e, se continuar subindo e você não a possuir, ficará infeliz”, disse ao comentar sobre bolhas. “Essas não são boas razões para investir. São razões emocionais, psicológicas”.
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Marks também desaconselhou focar excessivamente no timing de mercado – ou seja, na busca do melhor momento possível para comprar ou vender um ativo. Ao mesmo tempo, ressaltou que nem sempre o mercado está certo: “É difícil encontrar erros de precificação, mas não impossível”, disse. “Não acredito na hipótese de um mercado totalmente eficiente. Acho isso um absurdo”.
Confira alguns dos principais trechos da entrevista abaixo ou a versão integral no player acima.
InfoMoney – Que conselho o senhor tem dado aos investidores preocupados com a volatilidade atual do mercado e que querem preservar o capital a longo prazo?
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Howard Marks – Antes de mais nada, a volatilidade é inerente ao investimento. As flutuações de preços não devem ser motivo de preocupação. Você não deve investir em algo que não possa sobreviver a flutuações, porque elas vão acontecer.
O que realmente importa é o que acontece no longo prazo. É uma boa empresa? Cresce? Tem sucesso? Supera seus concorrentes? Se você comprou um título, ela vai te pagar de volta? Tem estabilidade financeira e segurança? Isso é importante, e não se as ações sobem ou descem.
As pessoas prestam muita atenção à volatilidade. “Volatilidade” geralmente significa que as coisas estão indo mal. Ninguém reclama da volatilidade do lado positivo. Mas se o preço cai, devido a eventos no ambiente não relacionados aos fundamentos, é como um produto entrar em promoção numa loja.
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“Conviver com a volatilidade faz parte de ser um investidor, que deve ignorá-la ou se beneficiar dela comprando as coisas quando estão em promoção”
IM – Em um memorando no início deste ano, o senhor explorou o tema das bolhas de mercado e eu gostaria de trazer esse assunto para a nossa conversa. Quais são os principais sinais de uma bolha? E como se proteger caso haja uma?
Marks – Tivemos duas bolhas que estouraram nesse século. A primeira foi a bolha tecnológica de 1999-2000 e a segunda foi a bolha imobiliária de 2005-2007. A primeira estourou e foi dolorosa, a segunda produziu o que chamamos de Crise Financeira Global.
Antes dessas duas, as pessoas não estavam tão preocupadas com bolhas como hoje. Todo mundo está dizendo: “Isso é uma bolha? Aquilo é uma bolha? Talvez seja uma bolha”.
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Uma bolha tem duas características. Primeiro, os preços altos dos títulos. O outro elemento importante é o psicológico. Ou as pessoas acham que o preço vai subir ainda mais e, se comprarem agora, vão ficar ricas. Ou o oposto: “o ativo subiu e me sinto péssimo por não tê-lo, outras pessoas ganharam dinheiro e eu, não. Talvez eu deva comprá-lo”. Chamo isso de capitulação.
“Nada disso faz sentido. Você deveria comprar um ativo porque é uma empresa da qual quer fazer parte e acha que o valor — o valor real, não o preço — continuará subindo. Não porque ela subiu, então talvez suba mais. Ou porque ela subiu e, se continuar subindo e você não a possuir, ficará infeliz”
Essas não são boas razões para investir. São razões emocionais, psicológicas.
Portanto, uma bolha inclui esse aspecto psicológico do “FOMO” [medo de ficar de fora] e do arrependimento. Esses são elementos que transformam preços altos em uma bolha perigosa.
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IM – Em entrevistas recentes, o senhor explorou a ideia de que pensar que o mercado está sempre certo é absurdo. Como os investidores podem desenvolver uma visão crítica diante de consensos do mercado em momentos de euforia ou pessimismo?
Marks – O elemento mais importante da teoria da Escola de Chicago, na minha opinião, é a hipótese do mercado eficiente. Ela diz que, como há muitos investidores no mercado, seus esforços fariam com que todas as informações fossem instantaneamente digeridas e incorporadas aos preços dos ativos, de modo que os preços estariam sempre corretos.
Se os preços estão sempre corretos, então você não pode fazer o julgamento de que um ativo está baixo e deveria subir, ou que está muito alto e provavelmente vai cair. Da forma como é descrito, é muito simples: você não pode bater o mercado. Não há pechinchas para encontrar, não há preços excessivos para evitar.
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“Acho isso um absurdo. Não se pode dizer que o mercado está sempre certo. Observe as ações da Amazon. Pelo o que me lembro, as ações da Amazon estavam a US$ 99 no ano de 1999. Em 2001, estavam a US$ 6. O mercado não pode ter acertado nas duas vezes. O valor não pode ter passado de US$ 99 para US$ 6 e hoje estar em alguns milhares de dólares. Talvez em ambas as vezes o mercado estivesse errado”
Não acredito na hipótese de um mercado totalmente eficiente – mas acredito que outras pessoas também estão tentando, elas não são idiotas. É difícil encontrar erros de precificação, mas não impossível.
Escrevi um memorando, acho que em janeiro de 2015, chamado “No divã” — porque de vez em quando o mercado precisa de uma consulta com um psiquiatra — e, em seguida, escrevi outro chamado “O que o mercado sabe?“. Depois que publiquei o primeiro memorando todos me diziam: “Bem, o mercado está caindo. Isso não indica que há algo errado?” E eu disse: “O mercado não sabe de nada. Eu sei mais do que o mercado. Portanto, não vou deixar o mercado me dizer o que fazer”.
Posso saber mais do que o mercado ou não, mas não há razão para pensar que ele sabe mais do que eu. Então, vou fazer o que acho certo. Não vou deixar de vender porque o mercado caiu ou comprar porque subiu. Vou tentar descobrir o que é certo e fazer.
IM – E há sinais quando o mercado está errado? Quais são eles?
Marks – São as vezes em que o mercado se move com base em emoções. Quando o mercado se move com base em fatos — uma empresa está tendo grande sucesso, com lucros crescentes, está atraindo executivos talentosos, está lançando bons produtos novos — são razões reais e positivas. Chamamos isso de “fundamentos”. Substância.
É com isso que as pessoas devem trabalhar, ao invés de adivinhar o que vai subir amanhã ou o que será popular. Você pode fazer isso com discos, qual artista as pessoas mais vão curtir em duas semanas. Mas tentar adivinhar de quais ações as pessoas vão gostar é muito difícil e eu desaconselho.
Infomoney