
Em tom de desafio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o governo brasileiro reafirmou que vai obrar a aposta na estratégia de fortalecer o bloco de países dos BRICS, como contraponto à liderança global norte-americana no sistema de comércio, finanças e geopolítica.
Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, Celso Amorim, principal assessor de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reclamou da interferência de Trump em assuntos internos de outros países. “Nem mesmo nos tempos coloniais vimos algo assim. Nem a União Soviética teria feito algo desse tipo”, disse. Ele sugeriu que o ex-presidente americano tenta influenciar politicamente o Brasil em favor de seu aliado Bolsonaro. “Trump não tem amigos nem interesses, só vontades”, disparou Amorim.
Para o diplomata, as ações de Trump vão produzir efeito contrário ao pretendido. “Esses ataques estão reforçando nossas relações com os BRICS, porque queremos ter relações diversificadas e não depender de um único país”, afirmou Amorim.
Trump permanece irredutível em relação ao Brasil
Apesar de aceitar negociar com outros países ameaçados por tarifas elevadas, e de ter concedido vários acordos, Trump mantém as portas fechadas para dialogar com o governo esquerdista brasileiro. Em grande, por sua postura desafiadora e antiamericana. O último recado foi de que não há chances do adiamento das tarifas anunciadas de 50% para 1º de agosto.
A exemplo de seu conselheiro Celso Amorim, Lula tem reagido de forma desafiadora. Afirmou que Trump “não foi eleito para ser imperador do mundo”. E já comparou a insurreição do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, aos eventos que levaram Bolsonaro a ser processado no Brasil. “Se ele tivesse feito no Brasil o que fez nos EUA, estaria sendo julgado aqui também”, assegurou o presidente.
A reportagem do Financial Times lembra que, apesar das ameaças comerciais, o Brasil registra um déficit na balança de bens com os EUA — ao contrário de outros países frequentemente criticados por Trump. O principal parceiro comercial brasileiro continua sendo a China, que importou cerca de US$ 94 bilhões do país em 2024, sobretudo em commodities como soja e minério de ferro.
Lula apela à UE, que fechou acordo com Trump
Mesmo com o protagonismo chinês, Amorim disse que o objetivo do Brasil não é favorecer um país em detrimento de outro. Ele defendeu o multilateralismo e uma reforma da ordem global. Segundo ele, os BRICS não são um bloco ideológico, mas uma alternativa necessária frente ao isolacionismo crescente dos EUA.
Na entrevista, o assessor de Lula também fez um apelo para que a União Europeia ratifique rapidamente o acordo comercial com o Mercosul, travado há anos. “Se a UE fosse inteligente, ratificaria esse acordo não apenas pelo ganho econômico imediato, mas também para equilibrar suas relações”. Nesse quesito, Trump largou na frente e anunciou no fim de semana um acordo comercial dos EUA com a UE, com redução de tarifas de 30% para 15%, além de um compromisso europeu de investir US$ 600 bilhões nos Estados Unidos.
Amorim disse ao jornal britânico que Lula deve priorizar a integração sul-americana em seu último ano de mandato. “A América do Sul é a região que menos comercializa entre si no mundo, e isso precisa mudar”, sublinhou. Segundo o diplomata, o Canadá demonstrou interesse em negociar um acordo de livre comércio com o Brasil.
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