Carla Zambelli (PL-SP) tornou-se um dos rostos mais conhecidos — e controversos — do bolsonarismo. Agora licenciada do cargo de deputada federal por São Paulo, a ex-ativista anticorrupção foi presa em Roma, nesta terça-feira (29), após semanas foragida da Justiça brasileira.
A prisão ocorreu após pedido de extradição do governo do Brasil e envolveu a cooperação de autoridades italianas, que receberam a localização da parlamentar de um deputado ambientalista do país europeu.
A trajetória política de Zambelli reflete o arco de ascensão e queda de uma das figuras mais emblemáticas do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Fundadora do movimento Nas Ruas, ela ganhou projeção nacional nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e surfou a onda conservadora de 2018 até se tornar a segunda deputada mais votada de São Paulo em 2022.

Nascida em Ribeirão Preto e formada em Planejamento Estratégico, Zambelli ganhou notoriedade em 2011 ao fundar o grupo “Nas Ruas”, um dos movimentos que impulsionaram os protestos contra o governo Dilma Rousseff. Em 2015, chegou a se acorrentar em uma pilastra da Câmara dos Deputados pedindo o impeachment da petista. Essa militância lhe rendeu capital político e a inseriu entre os aliados de primeira hora de Jair Bolsonaro.
Foi eleita deputada federal em 2018, na onda conservadora que levou Bolsonaro à presidência. No Congresso, tornou-se uma das figuras mais estridentes da base governista. Presente nas redes sociais, com postagens frequentes e ataques a adversários, Zambelli cultivou protagonismo e também enfrentamentos públicos — inclusive com aliados.
Antes de se consolidar como ícone conservador, Zambelli foi ligada ao grupo feminista Femen e participou de atos em defesa de pautas progressistas — um passado que se chocava com o discurso bolsonarista que depois adotou.
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Já em seu primeiro mandato, rompeu com a então deputada Joice Hasselmann após disputas internas no PSL. O episódio mais simbólico de sua trajetória de rupturas veio em 2020, quando entrou em confronto com o então ministro da Justiça, Sergio Moro.
Mesmo tendo o ex-juiz como padrinho de casamento, Zambelli tentou pressioná-lo para aceitar a troca do diretor-geral da PF em troca de uma vaga no STF — segundo conversas reveladas por Moro. O caso resultou no fim da relação entre ambos.
Armas, fake news e condenações criminais
Em 2022, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, Zambelli protagonizou um dos episódios mais controversos de sua carreira: sacou uma arma e perseguiu um homem nas ruas de São Paulo. O caso ganhou repercussão internacional e foi apontado por Bolsonaro, posteriormente, como um dos fatores que teriam prejudicado sua campanha à reeleição.
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No mesmo ano, Zambelli foi acusada de espalhar desinformação sobre o sistema eleitoral. Foi condenada pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, o que levou à sua inelegibilidade por oito anos.
Mas a condenação mais grave veio em maio de 2025, quando a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal a sentenciou a 10 anos e 8 meses de prisão e à perda do mandato por falsidade ideológica e invasão de sistema informatizado.
Segundo a denúncia, ela teria contratado o hacker Walter Delgatti Neto para forjar mandados de prisão contra autoridades, incluindo o próprio ministro Alexandre de Moraes.
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Fuga, prisão e tentativa de nova carreira na Itália
Após a condenação, Zambelli deixou o país clandestinamente pela fronteira com a Argentina e, de lá, partiu para os Estados Unidos e, finalmente, a Europa. Alegando questões de saúde, pediu licença do mandato e tentou articular uma possível candidatura política na Itália, onde possui cidadania.
Chegou a ter interlocução com setores da direita italiana e cogitou filiação a um partido local — projeto que acabou abandonando após repercussão negativa.
A prisão em Roma, na terça-feira (29), ocorreu após o deputado italiano Angelo Bonelli, da coalizão Aliança Verdes e Esquerda, informar a polícia sobre o paradeiro da brasileira. Bonelli já vinha pressionando o governo italiano a colaborar com a Justiça brasileira e chegou a denunciar publicamente que Zambelli estaria sendo protegida politicamente na Itália.
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Agora, o caso está nas mãos da Justiça italiana, que decidirá sobre a extradição da deputada licenciada — processo que pode se transformar em novo impasse diplomático.
Se extraditada, Zambelli deverá iniciar o cumprimento da pena em regime fechado. A prisão, antes preventiva, torna-se agora definitiva, após o trânsito em julgado da condenação.
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