A prisão da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) nesta terça-feira (29), em Roma, se tornou uma preocupação no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo informações do jornal O Globo.
Embora a detenção fosse considerada iminente — já que a parlamentar estava foragida há dois meses e constava na lista vermelha da Interpol — o episódio reforçou a estratégia de silêncio adotada pelo entorno do ex-presidente.
Segundo interlocutores ouvidos pelo jornal, há receio de que qualquer manifestação pública a favor de Zambelli possa ampliar a exposição de Bolsonaro num momento em que ele já enfrenta restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de uso de redes sociais. A orientação é que, mesmo diante da imprensa, ele se abstenha de comentar e, se questionado, alegue impedimento legal para se manifestar.

De aliada fiel a elemento tóxico
Zambelli foi, durante anos, uma das parlamentares mais leais a Bolsonaro. Eleita em 2018 na onda bolsonarista, ela chegou a protagonizar gestos de fidelidade que envolviam interferência em nomeações e rompimentos com antigas aliadas, como Joice Hasselmann, em defesa do ex-presidente. Também rompeu com Sergio Moro após sua saída do governo, mesmo tendo-o escolhido como padrinho de casamento.
Mas a relação começou a ruir com o episódio que Bolsonaro jamais perdoaria: em outubro de 2022, às vésperas do segundo turno da eleição, Zambelli sacou uma arma e perseguiu um homem negro pelas ruas de São Paulo. O episódio gerou forte desgaste na imagem do bolsonarismo e, na avaliação do próprio ex-presidente, contribuiu para sua derrota nas urnas.
“Carla Zambelli tirou o mandato da gente. Aquela imagem… Aquilo fez gente pensar: ‘O Bolsonaro defende o armamento’. Mesmo quem não votou no Lula, anulou o voto. A gente perdeu”, disse Bolsonaro, em março, ao podcast Inteligência Ltda.
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Desde então, a deputada tentou se reaproximar do núcleo bolsonarista, mas sem sucesso. O único gesto de Bolsonaro foi a gravação de um vídeo em apoio à candidatura do marido dela, o coronel Aginaldo, à prefeitura de Caucaia (CE), onde ele terminou em quarto lugar.
Silêncio estratégico
Para aliados do ex-presidente, o episódio da prisão reforça a necessidade de cautela. No PL e no entorno jurídico de Bolsonaro, há temor de que qualquer declaração pública possa ser usada contra ele em investigações que tramitam no STF.
Zambelli, além disso, é ré em outros processos — inclusive por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal — e tem seu nome vinculado à chamada “milícia digital” e ao inquérito das fake news.
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O afastamento também tem cálculo político: mesmo reeleita com quase 1 milhão de votos em 2022, Zambelli passou a ser vista como figura tóxica, sobretudo após ser preterida na disputa ao Senado — vaga que Bolsonaro ofereceu ao ex-ministro Marcos Pontes (PL-SP).
Hoje, Zambelli não tem mais o mesmo espaço no PL, tampouco no discurso bolsonarista. Com sua prisão, a aposta do entorno do ex-presidente é o esquecimento.
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